Juiz ordena libertação de doutoranda turca nos EUA detida pelas autoridades
- 09/05/2025
O juiz distrital William Sessions, do estado de Vermont, libertou Ozturk enquanto se aguarda uma decisão final sobre a sua alegação de que foi ilegalmente detida na sequência de um artigo de opinião que escreveu no ano passado criticando a reação da Universidade de Tufts, onde prossegue estudos de doutoramento, à guerra de Israel em Gaza.
Em separado continuará o seu processo de imigração, interposto pelas autoridades.
Ozturk compareceu na audiência de hoje remotamente, a partir do centro de detenção do Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA em Basile, Louisiana, relatando crescentes ataques de asma durante a reclusão e o seu desejo de terminar o seu doutoramento sobre crianças e redes sociais.
"Concluir o meu doutoramento é muito importante para mim", afirmou a estudante de Tufts, no estado de Massachusetts.
Ozturk, de 30 anos de idade, estava em vias de terminar o seu trabalho em dezembro quando foi presa.
A estudante turca foi detida no final de março por agentes à paisana da polícia federal em Boston, pouco depois de sair de casa em Somerville.
Ozturk tinha escrito um artigo de opinião num jornal universitário a pedir à sua universidade que reconhecesse o "genocídio" contra os palestinianos, e que promovesse iniciativas no sentido das exigências dos estudantes para cortar laços com Israel.
Um porta-voz do Departamento de Segurança Interna justificou na altura que as autoridades federais detiveram Ozturk e revogaram o seu visto depois de uma investigação ter descoberto que se tinha "envolvido em atividades de apoio ao Hamas, uma organização terrorista estrangeira que tem prazer em matar americanos".
"Um visto é um privilégio, não um direito", acrescentou o porta-voz, explicando que "glorificar e apoiar terroristas que matam americanos é motivo para que a emissão de vistos seja encerrada".
Após a publicação do artigo de opinião, o nome, a fotografia e o historial de trabalho de Ozturk foram divulgados em redes sociais que procuram documentar pessoas que "promovem o ódio aos EUA, Israel e judeus nos campus universitários norte-americanos".
Amigos e colegas de Ozturk disseram que não esteve envolvida nos protestos pró-palestinianos que eclodiram nos 'campus' da universidade na primavera passada, acrescentando que o seu único ativismo conhecido foi ser coautora do referido artigo de opinião.
A congressista democrata Ayanna Pressley, do Massachusetts, acusou o Governo de Trump de tentar "tirar o estatuto legal aos estudantes".
O Governo respondeu que as proteções constitucionais dos EUA para a liberdade de expressão não se aplicavam a quem não é cidadão norte-americano e acusou os ativistas estudantis de criarem uma atmosfera perigosa para os estudantes judeus.
A detenção de Ozturk integra-se na estratégia do Presidente Donald Trump de deportar os estudantes que, na sua perspetiva, se envolvem em "atividades pró-terroristas, antissemitas e anti-americanas", um rótulo que o Governo aplicou àqueles que criticam Israel e protestam contra a sua campanha militar em Gaza.
Antes de Ozturk, os agentes de imigração detiveram Mahmoud Khalil, um residente legal dos EUA e ativista palestiniano que desempenhou um papel importante nos protestos na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, no ano passado, e que agora enfrenta uma possível deportação.
Outras universidades têm reportado várias detenções pelas autoridades de imigração, relacionadas com manifestações ou publicações pró-palestinianas.
Durante a campanha, Trump prometeu combater o que classificou de antissemitismo nas universidades, além de deportar milhões de pessoas que estão no país ilegalmente.
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